Com um formato inédito
e histórias intrigantes, a minissérie Justiça (Globo) que estreou em 22 de
agosto e terminou em 23 de setembro, conquistou o público.
Foram vinte capítulos e uma história diferente a cada dia.
As histórias de cada
personagem foram contadas em um dia fixo da semana, mas elas se desenvolveram
paralelamente, com pontos de ligação, sendo alinhavadas e muito bem costuradas
como em um bordado cultural.
Mas antes dessa
amarração sem deixar pontas soltas, as histórias emocionaram.
Os personagens
cruzaram linhas sem voltas, em situações limites que os levaram a atitudes
extremas.
Houve ainda a
preocupação e um significado em repetir a mesma cena de ângulos diferentes – o
que aconteceu com frequência na trama, dependendo de quem era o personagem
principal naquele momento.
De autoria de Manuela Dias, depois de contar a história de um personagem principal a cada dia da semana, o último capítulo teve um final que amarrou todos os enredos.
As histórias foram concluídas e o canal celebrou 28 pontos no Ibope.
Às segundas-feiras foi apresentada a história de Vicente (Jesuíta Barbosa) que ao sair da prisão,
vai atrás do perdão de Elisa (Deborah Bloch) pelo assassinato de sua filha
(Marina Ruy Barbosa). Elisa não perdoa, mas não tem como evitar contato com o
ex-genro, que estuda na universidade em que ela dá aulas. A aproximação dos
dois levantou opiniões controversas. Em um primeiro olhar, parece impossível
que ela se envolva com o assassino da filha, mas ao observar melhor, o Vicente
é o mais perto que Elisa pode chegar de sua filha morta.
O desfecho da trama
foi dramático. Vicente e Elisa sofreram um grave acidente de carro. Ferido ele
não recebe ajuda de Elisa – que desde o começo da minissérie pensava em matá-lo
para vingar a morte da filha.
Só que Vicente,
enquanto esteve na prisão, se envolve com Regina (Camila Márdila) que esperou
que ele cumprisse a pena para que os dois ficassem juntos.
A história termina com
Regina praticando tiro ao alvo e com a certeza de que Elisa é responsável pela
morte de Vicente.
Nesse caso a justiça,
no sentido de vingança, é uma satisfação provisória que pode trazer consigo
armadilhas.
Às terças-feiras conhecemos a
história de Fátima (maravilhosamente interpretada por Adriana Esteves), que foi quem mais cativou a audiência.
Depois de sete anos na
prisão, vítima de uma armadilha do policial-vizinho Douglas (Enrique Dias
sensacional, excelente atuação) que escondeu drogas em seu quintal para
incriminá-la por ela ter atirado em seu cachorro, Fátima só quer reunir sua família.
Sua filha Mayara
(Julia Dalavía), no entanto, que virou prostituta, quer se vingar de Kellen (um
dos melhores papéis na telinha de Leandra Leal), na época era namorada de
Douglas.
A Fátima pertence ao
mundo das grandes mulheres, cheias de força, esperança e capacidade de perdoar.
E foi recompensada.
Reencontra a filha Mayara, o filho Jesus (Tobias Carrieres), é pedida em
casamento por Firmino (incrivelmente interpretado por Júlio Andrade), se
reconcilia com o vizinho-policial Douglas que lhe pede perdão e o presenteia
com um filhote de cachorro.
Às quintas-feiras foi a vez da história de Rose (Jéssica Ellen). No dia em que passa no vestibular para
Direito, ela é presa pelo policial Douglas em uma blitz na praia ao ser pega
com droga.
Só Rose é presa, sua
melhor amiga Débora (Luísa Arraes) não.
Rose sai da cadeia, se
envolve num romance com o traficante Celso (Vladimir Brichta) e ajuda Débora a
se vingar do homem que a estuprou.
O marido e a mãe de
Débora não concordam com a vingança e tentam fazer Débora desistir.
Débora segue com seu
plano de vingança e com a ajuda de Celso que lhe apresenta dois homens para
ajudá-la em seu intuito ela faz justiça com as próprias mãos, matando o estuprador.
Às sextas-feiras acompanhamos a história de Maurício (Cauã Reymond), o homem que ajudou a esposa Beatriz
(Marjorie Estiano), bailarina que fica tetraplégica, a morrer.
Ao sair da prisão ele
está obcecado em se vingar de Antenor (Antonio Calloni) que atropelou Beatriz.
Antenor, em plena
campanha política, é acusado pela própria esposa Vânia (Drica Moraes) que se
envolveu com Maurício, e que expõe nas mídias as falcatruas do marido.
Em uma discussão Vânia
acidentalmente cai da sacada do hotel e Antenor é condenado por sua morte.
Justiça poética: De todos os crimes que cometeu, Antenor é condenado por um que
não foi sua culpa.
Maurício se liberta do
passado encontra Débora na estrada e recomeça a vida em outro lugar.
O primeiro e o último capítulo mostraram capas de jornais com as quatro
histórias.
Histórias
emocionantes, contadas de um jeito diferente, não linear, com uma sequência que
avança todos os dias, quebrando o hábito do espectador; o forte elenco escalado
para a produção; o cuidado com a escolha dos cenários em Recife e um trabalho
impecável com a trilha sonora que ajudou a dar profundidade em cada cena, são
algumas das explicações para o sucesso da minissérie.
Uma trama muito bem
elaborada, como um mosaico, vista a cada dia da semana de um ponto de vista
diferente, num exercício de compreensão, já que a mesma cena com ponto de vista
de cada um, muda.
Assim é a justiça:
para mim é justo, para outra pessoa pode não ser.
O sucesso da trama e a
repercussão que gerou causaram reflexão e levou às pessoas assuntos importantes
e complexos.
É importante repensar,
em todos os aspectos, a nossa relação com o que é de fato justo
Fascinou porque mostrou o tamanho da dimensão humana!
Acho que o público ficará com saudade.
Nós já estamos.
Abraços Literários e até
a próxima.