Sinopse:
Elisa é uma zeladora muda que trabalha em um laboratório onde um
homem anfíbio está sendo mantido em cativeiro. Ela se apaixona pela
criatura e elabora um plano para ajudá-lo a escapar com a ajuda de
seu vizinho.
A
Forma Da Água
(Shape of Water) de Guillermo del Toro, filme recordista de
indicações e prêmios em festivais: Globo de Ouro, Leão de Ouro,
Critics Choice Award, Screen Actors Guild, Bafta, Directors Guild of
America Award, Satellite Award, ADG Award e Sindicato de Produtores
dos EUA, é um dos mais cotados ao Oscar 2018 com 13 indicações,
incluindo Melhor Filme e diretor.
No
longa, acompanhamos a história de Eliza (Sally
Hawkins),
uma zeladora muda que trabalha em uma organização governamental nos
EUA durante o período da guerra fria, junto com sua amiga Zelda
(Octavia Spencer) e tem sua vida transformada quando descobre uma
estranha criatura aquática (Doug Jones) no laboratório secreto da
organização.
Strickland,
um oficial do governo americano enviado à Amazônia para capturar um
ser mítico cujos poderes aumentariam a potência militar dos EUA,
volta trazendo consigo o deus Brânquia, o deus de guelras, um homem
anfíbio.
Strickland
e Eliza travam uma batalha sistemática, enquanto para ele o homem
anfíbio é um “objeto” a ser dissecado e exterminado, para ela é
um amigo em sua vida silenciosa e cercada de invisibilidade, alguém
cuja existência deve ser preservada.
Mistura,
na medida exata, de conto de fadas moderno, terror e suspense traz o
estilo inconfundível de Guillermo del Toro em uma história
atemporal sobre um homem (e seus traumas), uma mulher (e sua
solidão), e o deus que mudou para sempre suas vidas.
Em
uma das cenas do filme, Eliza observa gotas de água que escorrem
pela janela do ônibus, o foco passa para duas gotas que dançam no
vidro, bailando uma ao redor da outra até que, por fim, se unem. Sem
uma única palavra, Del Toro apresenta a metáfora para a vida.
São
as sutilezas que dão à história camadas de interpretação, e o
diretor mexicano, famoso por suas abordagens originais nos gêneros
fantasia e terror, usa metáforas e analogias filosóficas e
literárias. Por detrás desse romance inusitado, Del Toro deixa
fluir sua visão de mundo ao propor debates profundos quanto à
própria existência humana e à espiritualidade, como a dicotomia
humano/divino ao fazer refletir sobre o ser que em seu vilarejo era
tido como um deus e que agora está condenado às experiências, ou
sobre bem versus mal ao propor a discussão sobre a desumanidade do
homem e quem é realmente o monstro.
As
histórias de amor entre monstros e mocinhas não são novidade, o
conceito é quase um subgênero do romance e fantasia e tem como um
dos seus maiores representantes A Bela e a Fera.
O
que difere A Forma da Água de outras obras é a abordagem dada pelo
diretor que opta por um estilo lúdico que remete a um conto de
fadas sombrio cuja movimentação de câmera apresenta uma
suavidade que remete à musicais, gênero que tem papel essencial no
desenvolvimento da protagonista, enquanto a fotografia é fria e
obscura remetendo aos clássicos de monstros ou ao expressionismo
alemão, ambos fontes de influência para a obra do diretor.
A
música é composta com a pegada minimalista próxima do cinema
francês e tem Carmem Miranda no seu portfólio.
Destaque
para a importância da água na história, e o papel exercido pelo
anfíbio. O monstro não é uma figura aterrorizante também
não é um
adorável E.T de Spielberg, mas um espelho para os personagens
humanos. Cada personagem que tem contato com a criatura, vê nela um
espelho de sua própria alma, assim, Giles (Richard
Jenkins),
um homossexual reprimido, vê no monstro seu dilema de não ser
aceito na sociedade, enquanto Strickland (Michael
Shannon),
um sadomasoquista insano, violento e sociopata percebe na criatura a
sua própria monstruosidade como ser humano.
Cada
personagem compõe uma forma diferente para a mesma figura, como se
ele fosse a água que se espalha ao redor de cada coisa,
transformando-se naquilo que percorre.
Um
conto de fadas surreal que mostra que devemos amar a diferença do
outro.
Simples
assim. Simplesmente perfeito em sua imperfeição e em uma
singularidade absurdamente poética.
Abraços
Literários e até a próxima.