Manchester À Beira-Mar (Oscar de Melhor
Roteiro Original 2017), a princípio, parece um filme com uma história igual a
tantas outras.
Entretanto, em pouco tempo vemos as camadas que realizam um mergulho em cada personagem da
trama, proporcionando um estudo do ser e
de sua maior angústia, a morte.
Casey Affleck (Oscar de Melhor Ator 2017) é o protagonista
Lee Chandler, um zelador que volta para sua cidade devido a morte de seu irmão
e acaba tendo que tomar conta de seu sobrinho Patrick.
Até aí, uma história parecida com tantas outras; a questão
é que aqui o diretor Kenneth Lonergan conduz a narrativa, sem melodrama,
através do comportamento humano ao lidar com a morte, ou se preferirem, com a
vida, através de diálogos realistas, que logo causam identificação com os
elementos do filme.
Lee é um personagem que de cara causa empatia,
e essa empatia vêm justamente da semelhança que o personagem tem com nosso
comportamento ao lidar com situações difíceis.
Em uma atuação digna,
e brilhante, Casey nos mostra que a fuga para a própria não comunicação
pode ser a melhor solução por algum tempo, quando não se sabe o que fazer com
uma dor que não cessa nem como seguir a vida após um trauma sem possibilidade
de assimilação, nem aceitação ou superação.
E como alguém que não sabe lidar com a morte pode criar um
adolescente?
É isso que descobrimos ao longo do filme, através de diálogos inteligentes e sensíveis,
permeados por vontades diferentes já que ambos lidam de modo distinto com a
dor.
Não é por acaso que o
diretor mantém de maneira sofisticada e surpreendente os sentimentos em suspense, congelados,
ambientados num clima marítimo e gélido relacionando à frieza emocional do
nosso protagonista, que por sua vez interpreta magistralmente, de modo contido,
um homem com intenso drama pessoal.
Isso tudo numa
cultura que super valoriza a dinâmica, o alívio do drama e os finais felizes.
Um filme, que traz um grau abissal de profundidade de forma
suave e nos mostra o peso que se enfrenta ao lidar com traumas através de
atuações incríveis, administrando as idas e vindas no tempo optando pela
contenção numa estrutura espiral até chegar ao centro da “gravidade”.
E ainda nos presenteia com uma edição e montagem que é perfeita, de uma maneira que não estamos acostumados
a ver nas telonas, de tirar o fôlego.
Ameeeeeeei o flashback e olha que nunca me imaginei dizendo
isso!
Sem nenhuma concessão “comercial” é um filme
para adultos, um desses filmes raros que encantam pela simplicidade e
empatia permanecendo conosco por um bom tempo depois dos créditos finais.
Abraços Literários e até a próxima.