Para
celebrar a Primavera que tem início hoje as 22h54min vamos de Cecília
Meireles!
Saudação à Primavera
A
primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem
acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A
inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da
mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo
chão, começam a preparar sua vida para a primavera que
chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem na rotação da eternidade.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem na rotação da eternidade.
Saudemos
a primavera, dona da vida — e efêmera.
Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa”
Volume
1- pág. 366
Editora
Nova Fronteira
Abraços
Literários, beijos floridos e até a próxima.
boa primavera pra vc tb. melhoras. beijos, pedrita
ResponderExcluirLuli, você esta tao empolgada com a primavera como eu! Uma pena o calor da estação algo que não gosto. Adorei a poesia com muita flor e rima. Beijos de girassóis 😍😙
ResponderExcluirOi, Luli!
ResponderExcluirAquele desodorante é quase bom! hahaha! Pena demais reprovar no quesito suor...
Adoro os textos da Cecília Meireles! E claro que adorei esse da Primavera. É uma das minhas estações favoritas, já que é cheia de flores (e eu não sei se já comentei isso, mas eu sou a louca das flores! hahaha)! Mas fico na dúvida se prefiro o Verão, pois amo o calor.
Ótimo sábado!
Beijo! ^^
Chegou a estação mais charmosa do ano.
ResponderExcluirBig Beijos,
Lulu on the sky
Gostei do texto e o melhor, entendi o texto.
ResponderExcluirAqui no Nordeste não temos as Estações bem definidas.
Tenho uma relação pequena, muito pequena com Cecília Meireles. Mas tentei que ela fosse grande.
Quando fui Professora (temporária)na Faculdade de Medicina, tive um aluno que era apaixonado por Cecília Meireles.
Através dele tentei entender a poesia dela. Não consegui.
E "Canteiros" a música linda do Fagner que pensei ser toda letra dela, não é.
"Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudades;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos tristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento."
Beijo, querida Luli.
Oi, Luli!
ResponderExcluirÉ sempre bom terminar produtos, porque sentimos que valorizamos cada centavo que gastamos! Mas então... A Rexona tem itens de qualidade. Testo muitas marcas, só que sempre acabo voltando para os desodorantes deles! Já aquele shampoo a seco é maravilhoso, tirando a parte da coceira. Fiquei aqui pensando se é só alguma alergia minha, sabe?! Quanto ao Beauty Care da Cicatricure, acho ele incrível! Não tô podendo gastar agora, porém, quando sobrar um dinheirinho quero voltar a comprar.
Ótimo domingo!
Beijo! ^^
Olá, amada Luli!
ResponderExcluir" Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."
Belo texto amiga, amo Cecília Meireles!
Feliz Primavera, junto aos seus amados 🌷🌷🌷🌷🌷
💋💋💋 no seu ♥
Ai que gracinha esse texto, Luli! Adorei demais!
ResponderExcluirBeijo!
Cores do Vício
O texto é lindo e a primavera é minha estação favorita, talvez pq eu tenha nascido nela.
ResponderExcluirBeijos/Kisses.
Anete Oliveira
Blog Coisitas e Coisinhas
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Oi Luli querida, bom dia!
ResponderExcluirTexto maravilhoso e que não me surpreendeu com a sua beleza por se tratar de mais um da Cecília Meireles. Parabéns pela escolha do lindo texto p/receber a mais delicada das estações a qual chamamos de "PIMAVERA", aliás, a única de nome feminino né? kkk
Bjssss amiga e um maravilhoso dia é o que desejo p/vcs
Luli, tem uma propaganda, não sei se você já viu, que as pessoas estão sérias em um estúdio para tirar uma foto e de repente eles revelam uma parede cheia de flores e a feição das pessoas mudam. Pode até ser apenas a produção mesmo, mas a propaganda me passou uma veracidade pois é assim que me sinto quando vejo flores. Acho essa época mágica, e como não amar o trecho que escolheu para essa postagem? Tenha um ótimo dia, beijos!
ResponderExcluirBlog Paisagem de Janela
www.paisagemdejanela.com
amei! <3
ResponderExcluiramo a primavera!
xoxo
Guria do Século Passado