Dona de um texto brilhante, Martha seduz com
uma narrativa envolvente e
catalisadora e transforma o leitor a princípio numa espécie de voyer,
conduzindo-o por uma espiral de acontecimentos reveladores.
"Divã” conta a história de Mercedes - uma mulher com
mais de 40, casada e com filhos que resolve fazer análise.
O que começa como uma simples brincadeira
acaba por se transformar num ato de libertação; poético, divertido, devastador.
Movida pela angústia existencial, que se não é coisa triste tampouco é
libertadora, a busca da protagonista é universal e atemporal: quer descobrir,
entre todas aquelas que ela é, quem é a chefe, quem manda dentro dela. Marinheira de primeira viagem em terapia
a personagem encara o consultório como se fosse uma espécie de alfândega que
vai dar o visto para ela passar para o lado mais oculto de sua personalidade.
Na verdade, o mundo inventado por sua protagonista é abertamente inspirado na
realidade que ela captura em suas deliciosas crônicas.
Mercedes é uma mulher que se parece um pouco
com todas nós. Divertida, pragmática, inteligente e - sim, por que não? -
superfeminina.
É do tipo corajosa, daquelas que não têm medo
de nada. Capaz de administrar bem a casa, os filhos, o marido e até mesmo seus
ataques de vaidade. Ela nos parece muito segura de si, daquelas que possuem
controle sobre tudo. Será? Ao decidir pela análise, nossa protagonista descobre
que controle é uma palavra bastante frágil – “não tenho medo de perder o senso.
Eu tenho medo é desta vigilância interior, tenho medo do que impede de falhar”.
Ao se deitar naquele divã, Mercedes se dá
conta de suas armadilhas cotidianas. Ao entrar neste jogo catártico, Mercedes
nos confidencia que a liberdade é atraente quando nos parece uma promessa, mas
pode nos enlouquecer quando se cumpre.
Ao
final da leitura somos surpreendidos e, além de nos tornamos cúmplices das
loucuras, conflitos, e questões existenciais de Mercedes, constatamos que em
vários momentos estávamos deitados em nossos próprios divãs.
Abraços Literários e até a próxima.
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