A minúscula
Black Spring parece um lugar agradável. Natureza em abundância,
crianças brincando nas ruas e histórias que tomam conta das
cidades em qualquer lugar do mundo. Tem vários séculos de
existência e se mantém relativamente isolada de seus vizinhos,
ainda que mantenha um festival anual para movimentar o comércio
local. Uma cidade com mais História, mitologia e personagens
importantes do que seus visitantes poderiam imaginar.
Eu tinha três
motivos para achar que o livro seria bom: o plot com mistérios, o
autor premiado com o Hugo Awards e a quantidade de países que
adquiriram os direitos de publicação da obra.
A narrativa
apresenta a vida dos habitantes de Black Spring, uma cidadezinha do
Vale do Hudson, nos EUA. Comum à primeira vista, a cidade esconde
uma maldição. Katherine van Wyler, uma bruxa do século XVII,
caminha pelas ruas, entra nas residências, desaparece e reaparece em
lugares diferentes. Todos na cidade sabem que ela não deve ser
incomodada, não deve ser tocada e não devem quebrar as amarras que
mantêm seus olhos e boca costurados, nem as correntes que prendem
suas mãos, já que as consequências podem ser devastadoras se
alguém desafiar as regras.
A maldição faz
com que os habitantes de Black Spring permaneçam presos ao local.
Eles até podem
se afastar por um curto período, mas se esse tempo é estendido, uma
sutil e fatal depressão se instala e só é percebida quando uma
corda já está amarrada em seu pescoço e uma cadeira balança por
baixo de seus pés.
Com tantas regras
criadas para esconder a existência da Bruxa do resto do mundo, foi
criada uma agência de monitoramento com câmeras por toda a cidade e
um aplicativo de celular para monitorar
Katherine.
É essa
agência de monitoramento, a HEX, que dá título ao livro.
Esse clima rígido incomoda as gerações mais novas do local e o foco se desvia para o conflito de gerações. Um grupo de garotos que pretendem se rebelar contra a bruxa e a cidade cria um site chamado “Abra seus Olhos”, com o objetivo de reunir imagens e evidências sobre Katherine, o que é proibido.
Esse clima rígido incomoda as gerações mais novas do local e o foco se desvia para o conflito de gerações. Um grupo de garotos que pretendem se rebelar contra a bruxa e a cidade cria um site chamado “Abra seus Olhos”, com o objetivo de reunir imagens e evidências sobre Katherine, o que é proibido.
HEX tem
um número considerável de personagens importantes, mas se eu fosse
escolher um protagonista, seria Steve Grant que se culpa por ter
trazido a família para morar no local.
O autor revela os
segredos aos poucos e à medida que são revelados, somos inseridos
no drama dos habitantes e também da Katherine, cujo passado trágico
é bem triste.
A história tem
premissa interessante e traz uma pegada de contemporaneidade ao
cenário medieval, mas superficial, o que acaba configurando só mais
uma história de bruxa.
Talvez o problema
seja a versão, já que o idioma holandês não é comum e a nova
versão é uma reconstrução do original, onde o cenário deixa de
ser exótico para se parecer com um romance americano.
A qualidade da
obra talvez esteja em nos transportar para dentro de Black Spring e
nos fazer observar o mal que uma comunidade que sucumbiu ao medo e ao
terror é capaz de manifestar.
Um exemplo que
nós, humanos, ainda somos os piores monstros.
Abraços
Literários e até a próxima.